terça-feira, 9 de outubro de 2012

Realeza dos musicais, O Rei Leão chega a São Paulo


Atores da Broadway vieram a São Paulo para apresentar as versões em português de Gilberto Gil do musical O Rei Leão
Fábio Trindade

Quando o produtor e presidente da Disney Theatrical Group, Thomas Schumacher, perguntou para dezenas de jornalistas quem já havia assistido ao clássico desenho O Rei Leão, ele brincou ao fazer uma expressão de surpresa assim que todos levantaram as mãos. “Everybody, yeah.” Mas ele deixou claro que tratava-se de uma pergunta retórica, já que, afinal, “estamos falando da maior animação de todos os tempos”. Porém, chegar a esse resultado, garante o executivo, não foi nada fácil. Cerca de 450 profissionais, entre artistas, animadores, escritores, compositores, letristas e desenhistas “juntaram-se para transformar uma sinopse de quatro páginas, que dizia tratar-se de animais e que teria uma guerra, sem fala, sem música, no filme que todos conhecemos”.

Rafiki canta Circle of Life em SP
Baseando-se no exemplo de A Bela e a Fera anos antes, um sucesso também na adaptação para os palcos com um musical homônimo, a Disney rapidamente quis fazer o mesmo com O Rei Leão. “Mas em A Bela e a Fera falamos de humanos que se vestem de personagens, com castelos, vilas. Bem diferente de trazer a vida selvagem, os animais para o palco. Essa foi a pior ideia que já ouvi”, respondeu de prontidão Schumacher, na época. A opinião foi mudando rapidamente assim que ele conversou com a diretora Julie Taymor. “Não tem humanos no filme, mas tem humanidade nos personagens”, ela respondeu.

Após um trabalho árduo, veio o resultado: a maior bilheteria da história da Broadway, com US$ 853,8 milhões de arrecadação desde a estreia, em 1997. E esse não é o único feito. A produção ganhou seis prêmios Tony (o Oscar dos musicais), passou por 19 países, em sete línguas (japonês, alemão, coreano, francês, holandês, mandarim e espanhol), bateu a marca de 65 milhões de espectadores e faturou US$ 4,8 bilhões mundo afora. Ufa.

Já estava na hora de o Brasil ter a oportunidade de assistir a O Rei Leão. E foi isso que Schumacher e Julie, em um teatro com folhas secas, iluminação e decoração em tons pastéis, cheiro de natureza e clima de savana, vieram contar na última terça-feira, em São Paulo. O musical, pela primeira vez na América Latina, entra em cartaz no Teatro Abril (futuro Teatro Renault), na Capital, em março de 2013. Os detalhes foram apresentados à imprensa na ocasião, além das versões em português de quatro canções da produção, incluindo os sucessos Circle of Life e Can’t You Feel The Love Tonight, de Elton John. A pré-venda exclusiva, com 20% de desconto, para clientes dos cartões de crédito Bradesco, Bradesco Seguros e American Express Membership Cards começa no próximo dia 20 e vai até 28 de novembro.

Nala interpreta Shadowland em português no Abril
A missão de transpor as canções para o português ficou com Gilberto Gil, que também participou do lançamento do espetáculo. “Traduzir é sempre arriscado. O tradutor corre o risco de perder a alma. Muito do sucesso se atribui ao tradutor. Estamos trabalhando nas versões do próprio musical, o que é enriquecedor”, disse o músico, completando que é bom ter duas versões da mesma música, referindo-se ao fato de o filme também ter traduções para o português. “Quem ganha é o público.”


Gilberto Gil, Julie Taymor e Thomas
Schumacher durante coletiva
E, mesmo considerando-se um compositor eclético — “escrevi até jingle no início de carreira, tenho certo gosto pela variedade”, diz —, Gil confessa que relutou quando recebeu a proposta. “Mas tive muito apoio em casa. Minha mulher, Flora, e meus netos me animaram. São todos fãs de O Rei Leão.” A história, continua o músico, também o cativa, já que “tem essa questão de redenção, da família, a tarefa de levar o processo redentor. É um pouco da minha história também, e um pouco do que me atraiu para a peça.”

Como o espetáculo ainda está em fase de audição para a definição do elenco, os números musicais foram encenados pelos atores da Broadway que dão vida aos personagens Simba, Nala e Rafiki. Circle of Life ficou como Ciclo da Vida mesmo e Can You Feel the Love Tonight virou Dá Pra Ver o Amor Aqui. As músicas Shadowland e He Lives in You, que fazem parte apenas do musical, são, respectivamente, Onde a Jornada Termina e Está em Ti.


Simba durante He Lives In You
Adaptação
Entre os destaques de O Rei Leão estão o figurino e o cenário, adaptados também por Julie Taymor. “Quando comecei a montar o espetáculo, pensei em como reproduzir a personalidade de cada um desses animais. Não queríamos fazer bichos peludinhos, mas trabalhar com os aspectos humanos deles. Fizemos algo artesanal e tátil. Então cada fantasia é muito individual”, explica.

Para isso, Taymor abusou de peças conceituais feitas com materiais e estampas da cultura africana, além de técnicas antigas de teatro de fantoches. “Atualmente, são usadas muitas projeções no teatro, mas não gostamos dessa ideia. Por isso, preferimos dar uma cara de feito à mão. Queria tornar os mecanismos usados para dar movimento aos personagens como parte do espetáculo. Me inspirei muito no Carnaval brasileiro e no Teatro Chinês para isso”, revela a diretora, que levou o Tony de melhor figurino pela peça.


Saiba Mais
O presidente da Time For Fun, Fernando Alterio, anunciou durante o lançamento de O Rei Leão que o contrato de no mínimo cinco anos entre a T4F e a Disney Theatrical Group contempla, além do espetáculo que estreia em março, outras duas produções. Então, o Teatro Abril receberá nos próximos anos, na sequência, os musicais A Pequena Sereia e Mary Poppins.

Nala e Simba cantam a música mais emblemática: Can You Feel The Love Tonight
Ponto de vista
O português ensaiado dos atores da Broadway infelizmente prejudicou o entendimento das letras de Gilberto Gil, mesmo assim, a força das canções de O Rei Leão já provou que o espetáculo tem tudo para ser um sucesso por aqui também. Como amante incondicional de musicais, assisti à obra-prima da Disney em Nova York, exatamente com os artistas que vieram ao Brasil semana passada — com direito a ter o CD da trilha sonora no carro. E, por isso, posso dizer que não existe, atualmente, outra produção tão boa quanto e que ainda não tenha vindo ao País para brilhar nos palcos brasileiros. Os dois musicais anunciados pela T4F para continuar o legado Disney em São Paulo (A Pequena Sereia e Mary Poppins) também são espetaculares, mas nada se compara a O Rei Leão — nem mesmo A Bela e a Fera. A perfeição com que os animais foram transportados para o palco, a cenografia inusitada e diferente de qualquer outro musical que eu tenha visto — e são muitos — e a intensa história da peça merecem qualquer esforço para conseguir assistir às deliciosas três horas de show. Até porque, a cena inicial, o Ciclo da Vida, por si só, já vale o ingresso. Não tem, acredite, nada igual.

Figurino é um dos pontos altos do musical O Rei Leão
Serviço

O quê: Musical O Rei Leão

Quando: Estreia em março de 2013. Quartas, Quintas e Sextas, às 21h, Sábados, às 16h30 e 21h, e Domingos, às 15h30 e 20h.

Onde: Teatro Abril - futuro Teatro Renault (Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista, São Paulo, fone: 4003-5588)
Quanto: De R$ 50,00 a R$ 280,00. Pré-venda exclusiva clientes Bradesco de 20 de outubro a 28 de novembro.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Quatro musicais nacionais entram para o ranking



O trio protagonista de Priscilla - A Rainha do Deserto
Atualizar o ranking é sempre algo muito gostoso, pois significa que a lista cresceu. Tudo bem, precisamos ser realistas também, já que, muitas vezes, a produção decepciona e avaliar qual peça é pior para saber onde encaixar o espetáculo não é nada legal. Quem dera sair do teatro toda vez e dizer UAU! Ultimamente, esse não é o caso.

Mas vamos lá, tentando deixar o pessimismo de lado, até porque temos coisas boas sim. Incluí quatro musicais no meu ranking (confesso que fiquei ausente por um período, mas vou recuperar o tempo perdido). Começando por Priscilla – A Rainha do Deserto. O musical é ótimo, divertido, muito colorido e com um elenco incrível. Sem dúvida o destaque é André Torquato como Felícia – hilário e surpreendente. Sem contar que o repertório é recheado de sucessos - It’s Raining MenMaterial GirlTrue Colors, I Will Survive - dançantes e animados, que com certeza deixam qualquer produção com uma energia fenomenal. O figurino é impecável. Problema: não fazer versões de canções que não são parte da história e que servem apenas como parte do show como um número musical é uma coisa. Mas manter na versão original músicas necessárias para o entendimento da história é falha gravíssima. Restringe o público e decepciona quem foi assistir e não sabia desse detalhe. Não é todo mundo que fala inglês. Provavelmente por isso, já no primeiro mês, o teatro estava com publico mediano. Estamos no Brasil. Quem vai na Broadway sabe o que esperar!

Cena do musical Xanadu, de Miguel Falabella
O segundo foi Xanadu. Quase tive uma síncope de tanto rir, principalmente pelos erros e improvisos de Miguel Falabella, que esqueceu o texto e nome de personagens diversas vezes (até cantou com a letra na mão), e se atrapalhava o tempo todo com o cenário e figurino. Agora, Danielle Winits, minha querida, você está péssima. Fica na comédia e na televisão, mas abandona a vida de musicais. Aliás, Xanadu deveria perder a classificação de musical apenas porque Winits dubla – sim gente, ela não canta, dubla – a principal música da personagem. As poucas que canta, desafina que dá dó...de nós que pagamos para ver aquilo. O resto do elenco é ótimo, mas a comédia pastelão tem hora que perde a mão.

Fame – O Musical, é o terceiro da lista. Sobre esse, fiz uma crítica bem detalhada e publiquei aqui no Blog. Não deixem de ver.

Elenco de New York, New York
E o último foi New York, New York. Que músicas lindas, que voz linda de Kiara Sasso, cada vez mais impressionante, como se ainda fosse possível. Mas, não sei nem como dizer isso, de quem foi a ideia de fazer um musical em inglês e COLOCAR LEGENDA SIMULTÂNEA PARA O PÚBLICO E, PIOR, NA PARTE DE CIMA DO PALCO, PARA TODO MUNDO PERDER A CENA??? Parece piada pronta. Ou faz um musical nacional, já que estamos aqui, ou assume a bronca (como Priscilla) e deixa que o público se vire. Essa vergonha, como está, não dá. A história é média, muitos erros de sequência, sem contar lacunas absurdas na trama. Juan Alba surpreende. Canta bem, segura o papel e até dá show. Kiara, meu Deus, eleva a qualidade desse espetáculo. Apenas ouvi-la já vale (o ingresso está a preço popular – R$ 40,00 e R$ 20,00). Porém, tem solos imensos e fracos, como dois de sapateado intermináveis e seguidos. Quebra o ritmo e perde a qualidade.

Bom..a lista ficou assim:

1.      O Fantasma da Ópera
2.      Les Miserables
3.      Love Never Dies
4.      O Rei Leão
5.      A Bela e a Fera
6.      Wicked
7.      Mary Poppins
8.      Hairspray
9.      Jekyll & Hyde - O Médico e o Monstro
10.  A Família Addams
11.  A Noviça Rebelde
12.  Mamma Mia
13.  Cabaret
14.  Priscilla – A Rainha do Deserto
15.  Miss Saigon
16.  Um Violinista no Telhado
17.  Chicago
18.  Gypsy
19.  Xanadu
20.  As Bruxas de Eastwick
21.  A Gaiola das Loucas
22.  Hair
23.  New York, New York
24.  Fame
25.  Evita
26.  South Pacific
27.  Cats
28.  Aladdin

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A Família Addams prorroga temporada em São Paulo

Marisa Orth e Daniel Boaventura em A Família Addams

Em cartaz desde março no Teatro Abril, em São Paulo, o musical A Família Addams, que já atingiu a marca de 200 mil espectadores, prorrogou a temporada até 28 de outubro. A montagem, que tem no elenco os impagáveis Marisa Orth e Daniel Boaventura, dando vida ao irresistível casal Morticia e Gomez Addams, é a primeira fora dos Estados Unidos. Na Broadway, o espetáculo se tornou um dos mais bem-sucedidos quando estreou em abril de 2010, em Nova York, faturando mais de US$ 85 milhões — sua última apresentação na cidade aconteceu no dia 31 de dezembro do ano passado. O elenco conta ainda com Laura Lobo no papel da filha Wandinha e, Gustavo Daneluz, Matheus Lustosa e Nicholas Torres aprontam todas na pele do filho mais novo Feioso. Já Iná de Carvalho é a Vovó Addams e Claudio Galvan é Fester, enquanto Rogério Guedes faz o mordomo Tropeço. Completam o elenco principal, Wellington Nogueira, Paula Capovilla e Beto Sargentelli. A versão brasileira é assinada por Claudio Botelho, com direção de Jerry Zaks, coreografia de Sergio Trujillo e direção musical de Mary-Mitchell Campbell.

Agende-se
O quê: A Família Addams
Quando: até 28 de outubro, às quintas e sextas, às 21h, sábados às 17h e 21h, e domingos às 16h e 20h.
Onde: Teatro Abril (Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 411, Bela Vista, São Paulo)
Ingressos: As entradas custam de R$70 (Balcão A) a R$250 (Plateia VIP).

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Cabaret, em Paulínia, ganha sessão extra. Ainda há ingressos


Jarbas Homem de Mello e Cláudia Raia em Cabaret
Assim como aconteceu em março, a nova temporada de Cabaret em Paulínia, com Cláudia Raia, teve os ingressos praticamente esgotados antes mesmo da primeira sessão começar. Mas, ao contrário da primeira vez que o musical esteve na cidade, quem deixou para comprar de última hora terá chance sim de ver a atriz em cena. O espetáculo entra em cartaz hoje, no Theatro Municipal de Paulínia, e fica até domingo. Quem ainda não tem ingresso, porém, deve correr para garantir um na sessão extra que foi aberta no sábado, às 17h30. Até o final da tarde de ontem, ainda havia ingressos em todos os setores e os preços vão de R$ 80,00 a R$ 140,00 (inteira). As vendas acontecem na bilheteria do local, (Av. José Lozano Araújo, 1551, Pq Brasil 500, Paulínia, fone: 3933-2140) e pelo site w
ww.ingressorapido.com.br. Cabaret traz uma história forte, dramática, mas ao mesmo tempo leve e divertida, com números musicais elaborados e canções marcantes. A trama do musical, baseada no livro de Christopher Isherwood, gira em torno do relacionamento da inglesa Sally com o escritor americano Cliff Bradshaw, encarnado pelo jovem ator Guilherme Magon. Além disso, ambientada no Kit Kat Club, uma decadente casa noturna em Berlim, em 1931, como pano de fundo, o espetáculo trata da ascensão do nazismo e como todos naquela época foram afetados por isso, uma tensão, porém, que aparece mais forte apenas no segundo ato. Até chegar nesse ponto, o público vai passear por cada personagem e pensar que realmente está em um cabaré. O clima de erotismo é forte, mas necessário para criar o ambiente da época, tudo no ponto certo, para ninguém se chocar. Também faz parte do musical o ator Jarbas Homem de Mello na pele de MC, o mestre de cerimônias do cabaré que abre, encerra e permeia todo o musical. Miguel Falabella (Hairspray, A Gaiola das Loucas e Xanadu) assina a versão brasileira da peça.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Teatros da Broadway farão homenagem a Gore Vidal

Os teatros da Broadway, em Nova York, vão fazer uma homenagem hoje ao escritor e dramaturgo americano Gore Vidal, morto na terça (31), aos 86 anos. Todos reduzirão suas luzes, às 20h, por exatamente um minuto, informou a Liga da Broadway.

A entidade salientou que durante mais de seis décadas, Gore Vidal nunca deixou de escrever, incluindo peças de teatro, ensaios e roteiros para o cinema, além de ser crítico cultural em todas as partes. Vidal, um intelectual da velha guarda, morreu de pneumonia em sua casa nas colinas de Hollywood. Uma de suas obras, The Best Man, está atualmente em cartaz na Broadway.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Multishow estreia reality com brasileiros em busca de fama na Broadway


Didi Wagner comanda o reality Dançando na Broadway; seis brasileiros vão tentar ganhar a vida em Nova York
Mostrar o encanto, a beleza, o glamour, e também retratar os desafios e dificuldades para fazer parte do universo Broadway estão em alta nas produções da TV. Começou com a ótima série Smash, com produção de Steven Spielberg e exibida no Brasil pelo Universal Channel. E agora quem pretende se aventurar por esse mundo é o Multishow, que estreia hoje, às 21h30, o reality Dançando na Broadway. Sob o comando de Didi Wagner, a atração vai mostrar seis bailarinos brasileiros residentes em Nova York - Gabriel, Danilo, Felipe, Livia, Rebeca e Alice - tentando prosperar no concorrido mundo teatral norte-americano.

A cada semana, eles vão passar por provas que reproduzem alguns dos mais famosos musicais da Broadway. A tarefa do episódio de hoje é cantar e dançar cenas do musical Chicago (que não está entre as maiores produções, mas possui um balé maravilhoso e é o musical americano mais antigo em cartaz). À medida que os ensaios e a preparação são exibidos, o público conhece os competidores um pouco mais.

A direção ficou por conta de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, dupla que assinou o documentário Dzi Croquettes (2009). No DVD do primeiro episódio enviado à imprensa, Dançando na Broadway, pelo menos por enquanto, não consegue dar a dimensão do que é realmente a Broadway. Mas isso seria impossível mesmo em um programa que tem apenas meia hora (começou mal, acredito). Não há como se aprofundar na história dos musicais. Porém, não custa dar uma chance. Vamos acompanhar.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Fame, o Musical sai de cartaz sem deixar saudades


Cena inicial de Fame, o Musical, que fica em cartaz até domingo no Teatro Frei Caneca, em São Paulo


Esta é a última semana de um musical que pouca gente ouviu falar – pelo menos nos palcos brasileiros. Mas não é de se estranhar isso, afinal, Fame – o Musical estreou há pouco mais de dois meses, em 12 de maio, e já está saindo de cartaz. As últimas cinco sessões serão apresentadas entre hoje e domingo e ainda há muitos ingressos disponíveis, inclusive para a última apresentação – e com valor promocional.

Mas vamos ao espetáculo. Fame é um musical que foi encenado em mais de 30 países, baseado no filme homônimo de 1980, que virou até uma série de TV. Ele fala basicamente sobre a vida de estudantes de artes que passam pela New York High School of Performin Arts, na 46th Street, para receber aulas de dança, música e atuação para, quem sabe um dia, fazer sucesso. Uma história que hoje é bastante, digamos, batida. Mas esse não é o único ponto negativo do show.

Klebber Toledo e Giulia Katz são Nick Piazza e Serena Katz
O problema é que o musical já começa mal. A primeira pessoa a soltar a voz assim que as cortinas se abrem é o mais recente galã global, Klebber Toledo (o Guilherme de Morde & Assopra). Por que começa mal? Simplesmente porque estamos falando de um musical e o loirinho não canta nada. É só mais um (virou moda nos musicais, infelizmente, pela visibilidade que vem ganhando atualmente) rostinho bonito e conhecido para atrair público. Não deu certo.

Tanto que o mesmo aconteceu com a (ex)protagonista da peça. A escolhida para interpretar Carmem Diaz - uma jovem e ambiciosa estudante de teatro que busca o estrelato sem medir as consequências de seus passos – foi a (também) mais nova Miss Globo, Paloma Bernardi (a Alice de Insensato Coração). Não posso dizer como foi a passagem dela por Fame porque ela foi cortada antes mesmo da peça estrear. Motivo: desafinava. Sorte do público, que ganhou a excelente Corina Sabbas no papel, definitivamente.

Voltemos ao musical. 

Então, depois da primeira cantoria desanimadora de Klebber como o engomadinho Nick Piazza, as coisas começam a melhorar... visualmente. Digo isso porque o cenário, as coreografias, o jogo no palco, são bem elaborados. Os números musicais são limpos e bem executados, mas fica nisso. A história não acontece. Não evolui, cansa, e não supera nem os High School Musical da vida. Por isso o primeiro ato é bom e o segundo péssimo. No primeiro, é a alegria, o glamour, o deslumbre dos alunos na escola, etc etc etc, então são basicamente números musicais isolados. Já a segunda parte, onde a dramaturgia deveria pegar, ixi, nada acontece.

Números musicais bem elaborados de Fame salvam a peça
Basicamente, são três histórias isoladas, três casais, tentando se acertar. O principal, como dito, da Carmem, é o melhorzinho, já que é único que apresenta alguma empatia, um drama real, alinhados ao talento de Corina. O segundo, formado por Klebber e Giulia Nadruz (como a apaixonada e inocente Serena Katz), ganha algum brilho graças a belíssima voz da atriz e suas cenas pra lá de cômicas. Mas o enredo é comum: a fã do mocinho popular do colégio que, depois de esnobar a coitada, acaba se apaixonando.

O terceiro casal, com perdão pela sinceridade, deveria ser cortado do musical. Rafael Machado (o talentoso bailarino, porém negro e analfabeto, então vítima de preconceito, Tyrone Jackson) e Gabriela Rodrigues (a estudiosa e melhor bailarina da escola, Iris Kelly) são sofríveis. Rafael é um ótimo dançarino, tanto que conheci seu trabalho, em 2006, como dançarino de um cruzeiro e depois o vi em outros musicais, sempre dançando. E ele realmente dança, e canta até, muito, mas deveria parar por aí. Sua atuação é fraca, decorada, sem expressão, sem sentimento, na verdade, é amadora. Gabriela não é tão iniciante, mas está longe de ser boa. Sem contar que, por ter recebido um papel de “melhor bailarina”, ela precisava apresentar uma dificuldade maior no balé, e não apenas “andar” na ponta de lá pra cá. O pas de deux final é triste, com direito a um tapinha na bunda que quase pede para o espectador levantar e ir embora. Os aplausos só não são completamente xoxos porque sempre há os colegas na plateia.

Espetáculo conta com 33 atores em cena
As versões em português também são outro ponto fraco no espetáculo. A maioria é brega e rasa, sem contar que mudar sílaba tônica de uma palavra para ela se encaixar na letra é a coisa mais porca que uma música pode ter. Músicas campeãs de breguice são Sendo a Meryl Streep e Minhas Crianças. Preste atenção se você for assistir.

Os números musicais da canção mais emblemática, Fame, são bons, mas resumindo, trata-se de um espetáculo visual interessante, mas com elenco fraco e história deprimente. Como um amigo disse, é a série B do campeonato dos musicais.

AGENDE-SE

Fame, o Musical
Onde:
 Teatro Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569 , 6º andar, São Paulo) 

Quando: até 29 de julho. Quinta às 21h, sexta às 21h30, sábado às 17h e 21h e domingo às 18h. 
Ingressos: 
de R$ 50,00 a R$ 100,00.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Xanadu, de Miguel Falabella, estreia em Paulínia


Elenco do musical Xanadu, que fica em cartaz em Paulínia de 19 a 22 de abril, no Theatro Municipal: besteirol carioca


Minha reportagem publicada hoje, 19/04/12, no Correio Popular

Fábio Trindade
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
Fotos: Caio Galucci/Divulgação

Miguel Falabella, além de diretor, atua em Xanadu como Danny McGuire
Nos anos 1980, Miguel Falabella construiu e difundiu, ao lado de Vicente Pereira e Mauro Rasi, um gênero diferente, e tipicamente carioca, de fazer comédia nos palcos brasileiros: o besteirol. A comédia rasgada foi encenada nesse período em peças como As Sereias da Zona Sul e Miguel Falabella e Guilherme Karan, Finalmente Juntos e Finalmente ao Vivo.


O sucesso foi tanto que o estilo foi levado, posteriormente, para a maior emissora do País pelo ator, diretor, produtor e autor, como em Sai de Baixo, na década de 90, e, mais recentemente, em Toma Lá Dá Cá e no folhetim Aquele Beijo. Falabella jamais abandou o estilo que marcou sua carreira, mas também se aventurou em outras frentes, como importar musicais da Broadway. Começou com Os Produtores (2008), depois Hairspray (2009), passando por A Gaiola das Loucas (2010) e ainda assina a versão brasileira de Cabaret (2011), em cartaz atualmente no Rio de Janeiro.

Danielle Winits, Miguel Falabella e Danilo Timm durante cena de Xanadu
E se ambos os caminhos deram certo, juntá-los era só questão de tempo. “O espetáculo na Broadway já debochava do filme e da cena contemporânea americana. Então fazia todo sentido trazer para cá e transformar num besteirol como só os brasileiros sabem fazer e apreciar”, disse Falabella, se referindo a Xanadu, seu mais novo musical, que fará curta temporada em Paulínia, a partir de hoje, no Theatro Municipal. “É uma farra estar com esse elenco talentoso, nessa nossa grande brincadeira que é Xanadu”, completou ele, já que, além de dirigir a superprodução, Falabella atua na peça como Danny McGuire, papel que pertenceu a Gene Kelly no filme homônimo de 1980.


“Acho que é um grande exercício para ator o gênero do teatro musical, e uma delícia essa união de atuação e música”, afirmou. Miguel assumiu esse personagem depois que Sidney Magal, que inaugurou a versão brasileira e fez quase toda a temporada no Rio, deixou a produção. “Quando decidimos prorrogar a temporada, Magal teve de se ausentar por compromissos profissionais, e como eu já havia o substituído em outra ocasião, era a opção mais óbvia”, explicou.

Kira dança com o artista Sonny Malone
Ele também faz Zeus, que, na história, incentiva o jovem pintor Sonny Malone (Danilo Timm) a abrir um negócio, no caso, uma roller disco — modalidade de patinação artística com música disco. Aliás, com exceção de Falabella, todos os atores da peça cantam e dançam sobre rodas, um dos grandes diferenciais do musical.

Sonny é um artista fracassado que, ao tentar se matar, encontra Clio (interpretada por Danielle Winits, em seu oitavo musical), deusa da dança enviada do Olimpo para dar uma força ao artista. Disfarçada no mundo real como Kira, ela se torna a musa inspiradora de Sonny para achar seu Xanadu, “o lugar aonde ninguém ousa ir”, como diz uma das canções da peça.

Diferente da Broadway, considerada “simples” por Falabella, o público vai encontrar uma megaprodução no palco. São mais de 15 cenários, uma centena de figurinos, pássaros robotizados e telões de fibra óptica. “Tivemos de fazer pequenas adaptações de cenário para a turnê, mas nada que altere estruturalmente a peça. Por exemplo: tínhamos uns elevadores que auxiliavam em trocas, e davam um charme, mas que não alteram o espetáculo em sua essência”, lembrou Miguel.

Kira, na verdade, é Clio, uma deusa enviada do Olimpo
Acidente
A peça, entretanto, sofreu uma grande alteração recentemente. Um dos pontos altos do musical era um voo sobre a plateia realizado por Winits e, na época, por Thiago Fragoso, que dava vida ao Sonny. Porém, durante uma sessão na capital fluminense em 28 de janeiro, os cabos se romperam e eles despencaram sobre a plateia. Fragoso chegou a quebrar cinco costelas, não voltou mais à produção, o musical foi suspenso por um tempo e a cena foi retirada do roteiro. Falabella, sobre isso, não quis fazer nenhum comentário ao Caderno C.

Espetáculo sobre rodas dá um toque especial a história
Região
Paulínia entrou de vez no circuito dos musicais, mesmo que seja para curta temporada. Apenas este ano, já recebeu, além de Xanadu, Cabaret, estrelado por Cláudia Raia. E, para o segundo semestre, especula-se que o aclamado Tim Maia - Vale Tudo: O Musical (leia matéria na página C8), também aporta na cidade. “Em geral, um espetáculo desse porte gera custos bem difíceis de se manter numa temporada mais longa em praças fora do eixo de Rio e São Paulo, capitais, por uma série de questões”, contou Falabella, ao ser questionado sobre possíveis produções específicas para a cidade.

Telonas
O filme Xanadu, de 1980, gerou muitas expectativas ao escalar para o time Olivia Newton-John e Gene Kelly, os maiores nomes da época para o estilo. Ela tinha acabado de ganhar fama internacional com Grease - Nos Tempos da Brilhantina (1978), e ele já era consagrado principalmente por Cantando na Chuva (1952). Porém, nas bilheterias e na crítica, o sucesso não foi o mesmo. Com um orçamento de US$ 20 milhões, a arrecadação só foi suficiente para a produção se pagar e o longa ainda foi classificado como insosso, mal-dirigido e anêmico. A trilha sonora foi a única coisa que deslanchou, se tornando febre na época.

Serviço
O quê: Xanadu
Quando: hoje e amanhã, às 21h, sábado às 18h e 21h30, e domingo às 17h30.
Onde: Theatro Municipal de Paulínia (Av. José Lozano Araujo, 1551, Parque Brasil 500, Paulínia, fone: 3933-2140)
Quanto: de R$ 40,00 a R$ 140,00.

Vendas: pelo site www.ingressorapido.com.br e na bilheteria do teatro, das 13hs às 19hs. A meia-entrada é válida para estudantes, professores municipais e estaduais, idosos, sócios do Clube GT, clientes Porto Seguro e Azul Linhas Aéreas, e moradores de Paulínia.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A lista cresce e o Ranking muda


Que o Brasil está vivendo o boom dos musicais, isso não é novidade para ninguém. Por isso, novos espetáculos estão pipocando em São Paulo e no Rio de Janeiro e, um bom amante do estilo, deve aproveitar as oportunidades e conhecer os novos espetáculos. Recentemente, assisti mais dois musicais e, por isso, o ranking do melhor para o, digamos, menos atrativo, precisa ser atualizado. Os dois que entraram são Um Violinista no Telhado, que ocupa agora a posição 15º, e A Família Addams, que assisti há apenas dois dias, e ocupou o 10º lugar. Os dois são bons e com estilos bemmmm diferentes. O primeiro com uma história cativante e delicada, mas sem grandes números musicais (estamos falando de um musical). Já o segundo é hilário, um ótimo programa de entretenimento para toda a família, com Marisa Orth e Daniel Boaventura impagáveis como Mortícia e Gomez Addams. Vale muito a pena os dois. Só mais um detalhe, Hair subiu algumas posições depois que assiti a produção nacional. Ainda é fraco, mas nem se compara com o musical apresentado na Broadway.
  1. O Fantasma da Ópera
  2. Les Miserables
  3. Love Never Dies
  4. O Rei Leão
  5. A Bela e a Fera
  6. Wicked
  7. Mary Poppins
  8. Hairspray
  9. Jekyll & Hyde - O Médico e o Monstro
  10. A Família Addams
  11. A Noviça Rebelde
  12. Mamma Mia
  13. Cabaret
  14. Miss Saigon
  15. Um Violinista no Telhado
  16. Chicago
  17. Gypsy
  18. As Bruxas de Eastwick
  19. A Gaiola das Loucas
  20. Hair
  21. Evita
  22. South Pacific
  23. Cats
  24. Aladdin

sexta-feira, 30 de março de 2012

Xanadu abre turnê nacional em Paulínia

A turnê nacional do musical Xanadu, com Danielle Winits e Miguel Falabella, vai começar por Paulínia, no dia 19 de abril. A trajetória de Xanadu já o transformou num clássico. Começou com o filme, um dos símbolos mais representativos da iconoclastia de excessos da década de 80. Desta montagem vem à inspiração para a superprodução (em todos os sentidos) dirigida por Miguel Falabella, com versão de Artur Xexéo (em sua segunda incursão teatral).


Xanadu ficou ainda mais conhecido no Brasil depois que, durante a temporada no Rio de Janeiro, os atores principais, além de Winits, Thiago Fragaso, se acidentaram durante uma cena. O espetáculo chegou a ficar fechado e o ator deixou a produção.


Dica: Não comprem ingressos nos balcões laterais do 2º e 3º nível e jamais no Mezanino. Nesses lugares, o barato sai caro e você irá se arrepender. Se você realmente não se importar de ficar perdurado na cadeira e não ver o palco inteiro, aí pode comprar.


Serviço:
Xanadu
Data: 19 a 22 de abril
Local: Theatro Municipal de Paulínia (Av. José Lozano Araujo, 1551 – Parque Brasil 500)
Horários: 19/4 às 21h, 20/04 às 21h, 21/04 às 18h e 21h30 e 22/04 às 17h30
Informações: (19) 3933-2140 – www.teatrogt.com.br
Data de abertura da Bilheteria: 03/04/12
Theatro Municipal de Paulínia (terça a domingo 13hs ás 19hs)
Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br)


Valores:
Platéia Alta, Baixa, Central e Lateral: R$ 140,00.
Camarotes: R$ 140,00.
Balcões Laterais Térreo: R$ 100,00.  
Balcões Laterais 2° Nível: R$  90,00. 
Balcões Laterais 3° Nível: R$ 80,00.  
Mezanino: R$ 80,00.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Em cena, as tradições de Um Violinista no Telhado

Comunidade judaica de Anatevka celebranco o alicerce de sua existência, as tradições, em Um Violinista no Telhado



Minha matéria/crítica publicada no Correio Popular no dia 19/03

Fábio Trindade
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
Fotos: Guido Melgar/Divulgação

José Mayer vive no musical Tevye, o leiteiro da comunidade 

Quando as cortinas se abrem e Tevye (José Mayer) entra em cena, um rapazinho no telhado de uma casa simples no povoado fictício Anatevka, na Rússia czarista, toca lindamente seu violino. "Parece loucura, não é? Mas no nosso lugarejo é assim. Cada um de nós é um violinista no telhado. Ficamos aqui, porque Anatevka é a nossa terra natal" , diz o pobre leiteiro, membro de uma comunidade judaica, apresentando, na verdade, uma metáfora para explicar justamente o fundamento da existência de sua comunidade. "Nós sempre estamos com a cabeça coberta. Sabe por quê? Eu não tenho ideia. Mas vocês podem se perguntar também como fazemos para manter o equilíbrio em cima do telhado, e eu respondo. O que traz equilíbrio à nossa mente pode ser resumido numa palavra: tradição."
São elas, as tradições, que definem os papéis que cada um deve assumir no povoado: seja o mendigo, a casamenteira, o açougueiro, o rabino e, claro, o leiteiro e sua família, que fazem parte da base econômica do vilarejo, todos sabem bem porque estão ali. Sem as tradições, a vida em Anatevka seria tão instável quanto o violinista que tenta se equilibrar nos telhados das casas. Por isso o jovem está sempre lá, durante todo o espetáculo, como se fosse uma parte da consciência de Tevye, lembrando qual caminho seguir, mesmo que seja para abrir espaço para a quebra dessas muitas tradições.

Essa é mensagem que percorre todo o musical Um Violinista no Telhado, baseado nos tradicionais contos judaicos de Sholom Aleichem e trazido ao Brasil pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, e que fica em cartaz até 15 de julho no Teatro Alfa, em São Paulo.

Cena do musical Um Violinista no Telhado, com José Mayer

E mesmo sendo uma família do início do século 20, num país em crise e abalado pela desigualdade social, é impossível não dizer que se trata de um enredo atemporal e sem classe definida. Viver sob tradições e muitas vezes ter de confrontá-las fazem parte de qualquer sociedade, e isso, por si só, já torna a peça bem-sucedida.

"É um prazer para nós, atores, e também para a plateia, seja judia ou não" , explicou, ainda transpirando a energia da peça, José Mayer, em conversa com a reportagem poucos minutos após apresentação apenas para convidados, na semana passada. "Certamente, dentro do panorama de musicais, trata-se de um dos momentos mais sublimes. A peça é de 1964 e se tornou um clássico excepcional montado no mundo inteiro. Todos nós passamos por coisas como as apresentadas. Filhas se casando, apego ao passado, os costumes, necessidades de mudanças. Esses assuntos fazem parte de qualquer família e por isso acho que o musical bate tanto no coração das pessoas" , continuou o ator, que contracena na peça ao lado da filha, Júlia Fajardo. "Estou triplamente feliz. Pela beleza da peça, pela oportunidade que o personagem oferece e, agora, com a Júlia no elenco."

Mayer, que pode ser visto todas as noites como o peixeiro Pereirinha do folhetim global Fina Estampa, canta e dança em Um Violinista... Aliás, ele é o típico não-cantor que canta, conseguindo se manter e até fazer bonito perto dos outros cantores profissionais. Isso se dá também principalmente pela ausência de uma voz marcante no musical, o que, no final, acaba sendo um problema. Destaque para Malu Rodrigues no papel de Hodel e Julia como Chava, filhas de Tevye, com vozes que destoam das demais, mas que aparecem em poucos momentos e em duetos que não estão a altura.

Família
Judeus sofrem com decreto Czar que os expulsa do lugarejo

A relação do leiteiro com as filhas é o fio condutor do espetáculo para falar da tradição. Na aldeia, as filhas se casam com quem o pai escolher, auxiliados por uma casamenteira, que procura bons partidos para as jovens, em troca de uma comissão. Mesmo que esse partido tenha duas, três vezes a idade delas. Tevye descobrirá que com ele não será assim. As três filhas mais velhas, de cinco, se interessam por outros rapazes - um alfaiate pobretão, um judeu revolucionário e até um russo, o que, nem com a quebra de outras tradições, será aceito pelo pai.

Os momentos de reflexão de Tevye para saber se permitirá e abençoará essas uniões são hilários, com um texto impecável e um humor ácido de Mayer no mesmo estilo de seu personagem da TV. Aliás, não há como não comparar o Pereirinha e o Tevye, e não apenas pelo visual. Os trejeitos, as sacadas e a forma de tratar os assuntos são exatamente os mesmos. "Eu acho que os dois se influenciaram. O Tevye me possibilitou chegar ao Pereirinha, que acabou ficando com o mesmo visual do Tevye. Os dois personagens tem uma certa afinidade, até porque um é leiteiro e outro peixeiro. São personagens populares, afetivos, e o público adora" , contou o ator.

Soraya Revenle, no papel de Golda, e Mayer como Tevye
Quem rouba a cena, e não poderia ser diferente, é a veterana Soraya Ravenle no papel de Golda, a mulher bravíssima e de gênio forte de Tevye. Com uma interpretação impecável, apesar dos números musicais relativamente fracos, a melhor cena do espetáculo, inclusive, é o momento em que o chefe da família precisa contar a ela que a primogênita não poderá aceitar a proposta de casamento do açougueiro (Sylvio Zilber) que ela considera ótima, para ficar com o pobretão. O palco cheio e os efeitos dão uma pitada especial.

"Todos os trabalhos, quando são bons, desafiam o ator. Esse é um texto clássico, que já nasceu muito bom, com uma dramaturgia perfeita e com um personagem rico e complexo" , comentou Soraya. A atriz, que já fez musicais como Ópera do Malandro (2003) e Sassaricando (2007), explica que esse, entretanto, tem um ar diferente. "A história é parecidíssima com a da minha família. Eles precisaram fugir pouco antes da Segunda Guerra Mundial, apesar da gente estar tratando da Primeira aqui. Então me toca de forma diferente."

Segundo Ato

O fato citado por Soraya é a pressão política do Czar, que baixa um decreto obrigando os judeus a deixar a vila de Anatevka e, consequentemente, suas tradições. Esse dilema é tratado fortemente no segundo ato, mas como antes era apenas pincelado, acabou deixando o musical arrastado e um pouco monótomo, confrontando a animação e beleza da primeira parte (muito melhor). Todos do lugarejo, desiludidos, saem em busca de um novo lugar para viver, sabendo que nunca terão ali novamente rezas, festas tradicionais, celebrações de shabat e casamentos - momentos típicos do judaísmo que são apresentados de forma brilhante, como, por exemplo, a reza da família diante da mesa e o casamento da filha mais velha. Emocionantes.

Serviço:

O quê: Um Violinista no Telhado
Quando: estreia hoje e fica em cartaz até 15 de julho
Onde: Teatro Alfa (Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro, São Paulo, fone: (11) 5693-4000)
Quanto: de R$ 40,00 a R$ 200,00 (bilheteria do teatro e pelo site www.ingressorapido.com.br)