sexta-feira, 29 de março de 2013

Exibições de Filmes Musicais: Como Confundir o Telespectador


A essência e a força de um filme musical estão nas canções que permeiam, ou mesmo direcionam, o enredo da produção. Uma situação que não teria como ser diferente, já que a narrativa do longa apoia-se obrigatoriamente em uma determinada sequência de músicas, todas elas encaixadas diretamente na proposta da trama. E, só assim, fazem sentido. Tanto que muitas canções desse gênero de filmes viram clássicos, porque estão tão conectadas com a cena criada, que conseguem transpor exatamente a mensagem desejada. Alguns exemplos marcantes são Singin’ in The Rain (de Cantando na Chuva), The Sound of Music (de A Noviça Rebelde), Over The Rainbow (de O Mágico de Oz), Beauty And The Beast (de A Bela e a Fera), Cabaret (do musical homônimo) e por aí vai. 


Across the Universe apresenta uma envolvente história com músicas dos Beatles
Clássicos ou não, o gênero cresceu e são muitos os filmes musicais atualmente, que podem ser vistos a qualquer momento, principalmente para assinantes de TV paga. Mas é justamente aí que temos um, digamos, problema. Vamos lá. Na semana passada, o canal Sony, por exemplo, exibiu Across The Universe, filme americano de 2007, dirigido por Julie Taymor (de Frida e também do musical O Rei Leão, em cartaz em São Paulo — leia mais nesta página), que retrata os anos 60 por meio da obra dos Beatles. Ou seja, as canções e suas poderosas letras são primordiais para entender e se encantar com o longa. Mas foi então que o filme teve exibição com os diálogos dublados (nenhum problema nisso, já que existe um público grande que prefere assistir a produções dubladas), mas as músicas foram mantidas com áudio original, no caso o inglês, e sem legendas.

Indiscutivelmente, diante disso, fazemos a pergunta: qual o sentido em exibir um musical parcialmente dublado com músicas em inglês sem legenda? Qual é o público que o canal pretende atingir, já que um “fluente” na língua inglesa provavelmente prefere ver os diálogos também na língua original, e os assinantes que gostam de longas dublados muito provavelmente terão dificuldades em entender o outro idioma? Será que o pensamento é que as músicas dos Beatles são tão conhecidas que elas não precisam de transcrição? Certamente, a resposta é não.


Uma Thurman estrela musical Os Produtores
De qualquer forma, essas perguntas foram feitas ao canal, que respondeu o seguinte: “Acreditamos que essa situação tenha sido extremamente pontual, uma vez que não é o produto principal do canal — que é focado em séries e competições de talento — a exibição de filmes, especialmente musicais”, declarou a assessoria de imprensa, completando que, “infelizmente, nossos porta-vozes não acreditam que o canal possa ajudá-lo consubstancialmente nessa pauta”. 

O fato é que a exibição “confusa” de Across The Universe não chamou a atenção por ser algo pontual, como informou a assessoria, mas sim por resgatar na memória que essa não é a primeira vez que um musical é exibido assim na TV por assinatura. Aliás, outros filmes e outros canais fazem a mesma coisa, tornando as perguntas citadas ainda mais instigantes.

Os Produtores
A Fox mantém regularmente na grade o filme Os Produtores, adaptação de 2005 do musical de 2001 da Broadway, estrelado por Nathan Lane, Matthew Broderick e Uma Thurman, e dirigido por Susan Stroman. Pelo menos duas vezes, rodando pelos canais, vi esse filme sendo exibido exatamente como a Sony apresentou o longa com músicas dos Beatles: diálogos dublados, músicas em inglês e sem legenda. Talvez a Fox tivesse, então, a resposta para essa situação. “Conversei com algumas pessoas daqui e, como Fox Channels, não temos como responder sobre o assunto”, esclareceu um assessor de imprensa da rede. 


Cena de High School Musical: longa com legenda em inglês
Mas o resgate na memória foi longe, e lembrei também que o Disney Channel, por diversas vezes, trouxe em sua grade o musical de sucesso entre os jovens High School Musical, também com dublagens em algumas partes, músicas com áudio original, nada de legendas — ou, quando tem, a legenda está em inglês. Oi? A ideia, quem sabe, é oferecer uma aula grátis de idiomas na TV? No caso de High School Musical, podemos pensar que o intuito é permitir que os fãs aprendam a cantar as músicas. Mas é só uma especulação, já que a assessoria do canal não respondeu os questionamentos. 

Bom, a Fox vai exibir novamente Os Produtores semana que vem, no dia 4, às 2h10. Vamos esperar para ver como será que o filme vai chegar até o público. Mas que é curioso, isso é.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Crítica - Oz: Mágico e Poderoso Mostra Como Tudo Começou


Filme inspirado em O Mágico de Oz chega nesta sexta (08) aos cinemas: longa investiga a origem no personagem-título


James Franco interpreta Oscar Diggs em Oz
A missão do cineasta Sam Raimi em Oz: Mágico e Poderoso (Oz The Great And Powerful, EUA, 2013) é investigar como o personagem-título do filme de Victor Fleming, de 1939, foi parar na encantadora Terra de Oz. E, mais do que isso, como ele se transformou no grande e respeitável Mágico, reinando absoluto na Cidade das Esmeraldas, já que magia passa longe de suas habilidades.


Na nova aventura da Disney, que estreia hoje nos cinemas, vamos conhecer Oscar Diggs (James Franco) — apelidado de Oz — um ilusionista trambiqueiro que abusa do seu poder de persuasão para conseguir uns trocados em um decadente circo instalado no Kansas.

Apesar de Dorothy não aparecer ou ser citada em momento algum no longa, os fãs da película estrelada por Judy Garland perceberão, desde o início, as inúmeras referências ao clássico. Elas são tantas, e nada discretas, que Raimi parece subestimar o público, como se o espectador não fosse capaz de acompanhar algo original. Ou seja, falta imaginação. 


A começar pela forma como Oscar vai parar em Oz (ele também é levado por um tornado) e a reprodução de um Kansas velho e sem cor — ao invés do sépia da produção de 1939, aqui a opção foi em preto e branco —, com o intuito de chocar com o colorido reino além do arco-íris.

Só tem um detalhe: Oz está extremamente moderna e surreal se comparada com a mesma terra encontrada por Dorothy anos depois. Sabemos que os tempos são completamente outros, só que os muitos efeitos especiais e o uso da tecnologia 3D transformaram o filme em um belíssimo espetáculo visual, com imagens realmente impressionantes, mas deixaram o reino tão absurdo e improvável, que fica difícil se conectar com tudo aquilo.

James Franco também tem responsabilidade nisso. Falta carisma, charme e até humor para segurar as mais de duas horas de produção, restando uma interpretação extremamente artificial. E isso parece ter contaminado todo o elenco, estelar, aliás. As três bruxas no caminho de Oscar são Theodora (Mila Kunis, que se sobressai, um pouco, entre as colegas), Evanora (Rachel Weisz) e Glinda (Michelle Williams), essa, a mais fraca de todas. Ela pegou o título de bruxa boa e acabou entregando, infelizmente, uma bruxa insossa. E são três porque, na trama de Victor Fleming, além da boa e da má, temos a que a Dorothy mata ao cair em cima com sua casa.

Quando Oscar é desmascarado por seus truques e foge do Kansas, ele é recepcionado por Theodora, que explica essa chegada inesperada como parte de uma antiga profecia que livrará o reino da bruxa má — ele precisa matá-la, achando que Glinda é a responsável por tudo. Para isso, o Mágico embarca pela estrada de tijolos amarelos para encontrá-la — como eu disse, são muitas as referências. Quer mais? No caminho, ele se depara com alguns seres locais precisando de ajuda e, após salvá-los, eles se tornam grandes amigos e passam a segui-lo nessa missão. No lugar do Leão Covarde, temos o Macaco Finley, e substituindo o Homem de Lata, conhecemos a simpática Menina de Porcelana. O espantalho vem depois, com uma função um pouco diferente.

Glinda revela-se como boazinha e guia Oscar na luta contra as verdadeiras vilãs. Até o campo de papoulas usado contra Dorothy pela bruxa má está aqui, dessa vez, aproveitado pelos mocinhos. Para justificar o sucesso de Oz, a saída foi sua criatividade com máquinas, conseguindo travar uma grande batalha na Cidade das Esmeraldas (mais uma vez, com ótimos efeitos, mas muitos erros de sequência, como uma população implorando pela vida de Glinda, sendo que ela durante anos foi considerada a vilã).

Mostrar a origem dos personagens de O Mágico de Oz não é uma novidade. O bem-sucedido musical Wicked explora bem as muitas lacunas deixadas pelo filme de Fleming, ao ponto de deslocar o caráter dos personagens e “revelar” que nada é o que parece. Seria melhor filmar essa versão do que tentar criar um filme óbvio que apoia-se apenas em recursos tecnológicos.


As irmãs Evanora (Rachel Weisz) e Theodora (Mila Kunis) são as bruxas más da trama de Oz: Mágico e Poderoso