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Cena inicial de Fame, o Musical, que fica em cartaz até domingo no Teatro Frei Caneca, em São Paulo |
Esta é a última semana de um musical que pouca gente
ouviu falar – pelo menos nos palcos brasileiros. Mas não é de se estranhar
isso, afinal, Fame – o Musical estreou há pouco mais de dois meses, em 12 de maio,
e já está saindo de cartaz. As últimas cinco sessões serão apresentadas entre
hoje e domingo e ainda há muitos ingressos disponíveis, inclusive para a última
apresentação – e com valor promocional.
Mas vamos ao espetáculo. Fame é um musical que foi encenado em mais de 30 países, baseado
no filme homônimo de 1980, que virou até uma série de TV. Ele fala basicamente sobre
a vida de estudantes de artes que passam pela New York High School of Performin
Arts, na 46th Street, para receber aulas de dança, música e atuação
para, quem sabe um dia, fazer sucesso. Uma história que hoje é bastante,
digamos, batida. Mas esse não é o único ponto negativo do show.
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Klebber Toledo e Giulia Katz são Nick Piazza e Serena Katz |
O problema é que o musical já
começa mal. A primeira pessoa a soltar a voz assim que as cortinas se abrem é o
mais recente galã global, Klebber Toledo (o Guilherme de Morde & Assopra).
Por que começa mal? Simplesmente porque estamos falando de um musical e o
loirinho não canta nada. É só mais um (virou moda nos musicais, infelizmente,
pela visibilidade que vem ganhando atualmente) rostinho bonito e conhecido para
atrair público. Não deu certo.
Tanto que o mesmo aconteceu com a (ex)protagonista
da peça. A escolhida para interpretar Carmem Diaz - uma jovem e ambiciosa estudante
de teatro que busca o estrelato sem medir as consequências de seus passos – foi
a (também) mais nova Miss Globo, Paloma Bernardi (a Alice de Insensato Coração).
Não posso dizer como foi a passagem dela por Fame porque ela foi cortada antes
mesmo da peça estrear. Motivo: desafinava. Sorte do público, que ganhou a
excelente Corina Sabbas no papel, definitivamente.
Voltemos ao musical.
Então, depois
da primeira cantoria desanimadora de Klebber como o engomadinho Nick Piazza, as
coisas começam a melhorar... visualmente. Digo isso porque o cenário, as
coreografias, o jogo no palco, são bem elaborados. Os números musicais são
limpos e bem executados, mas fica nisso. A história não acontece. Não evolui,
cansa, e não supera nem os High School Musical da vida. Por isso o primeiro ato
é bom e o segundo péssimo. No primeiro, é a alegria, o glamour, o deslumbre dos
alunos na escola, etc etc etc, então são basicamente números musicais isolados.
Já a segunda parte, onde a dramaturgia deveria pegar, ixi, nada acontece.
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Números musicais bem elaborados de Fame salvam a peça |
Basicamente, são três histórias isoladas, três
casais, tentando se acertar. O principal, como dito, da Carmem, é o
melhorzinho, já que é único que apresenta alguma empatia, um drama real,
alinhados ao talento de Corina. O segundo, formado por Klebber e Giulia Nadruz
(como a apaixonada e inocente Serena Katz), ganha algum brilho graças a belíssima
voz da atriz e suas cenas pra lá de cômicas. Mas o enredo é comum: a fã do mocinho popular do colégio que,
depois de esnobar a coitada, acaba se apaixonando.
O terceiro casal, com perdão pela
sinceridade, deveria ser cortado do musical. Rafael Machado (o talentoso
bailarino, porém negro e analfabeto, então vítima de preconceito, Tyrone
Jackson) e Gabriela Rodrigues (a estudiosa e melhor bailarina da escola, Iris
Kelly) são sofríveis. Rafael é um ótimo dançarino, tanto que conheci seu
trabalho, em 2006, como dançarino de um cruzeiro e depois o vi em outros
musicais, sempre dançando. E ele realmente dança, e canta até, muito, mas
deveria parar por aí. Sua atuação é fraca, decorada, sem expressão, sem sentimento,
na verdade, é amadora. Gabriela não é tão iniciante, mas está longe de ser boa.
Sem contar que, por ter recebido um papel de “melhor bailarina”, ela precisava
apresentar uma dificuldade maior no balé, e não apenas “andar” na ponta
de lá pra cá. O pas de deux final é triste, com direito a um tapinha na bunda
que quase pede para o espectador levantar e ir embora. Os aplausos só não são completamente xoxos porque sempre há os
colegas na plateia.
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Espetáculo conta com 33 atores em cena |
As versões em português também são
outro ponto fraco no espetáculo. A maioria é brega e rasa, sem contar que mudar
sílaba tônica de uma palavra para ela se encaixar na letra é a coisa mais porca
que uma música pode ter. Músicas campeãs de breguice são Sendo a
Meryl Streep e Minhas Crianças. Preste atenção se você for assistir.
Os números musicais da
canção mais emblemática, Fame, são bons, mas resumindo, trata-se de um espetáculo visual
interessante, mas com elenco fraco e história deprimente. Como um amigo disse, é a série B do campeonato dos musicais.
AGENDE-SE
Fame, o Musical
Onde: Teatro
Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569 , 6º andar, São Paulo)
Quando: até 29 de julho. Quinta às 21h, sexta às 21h30, sábado às
17h e 21h e domingo às 18h.
Ingressos: de R$ 50,00 a R$
100,00.