quinta-feira, 1 de março de 2012

Doces e Bizarros, A Família Addams estreia em São Paulo



Minha reportagem publicada hoje no Correio Popular, 01/03/2012

Fábio Trindade
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
Fotos: Augusto de Paiva

Marisa Orth e Daniel Boaventura vivem Morticia e Gomez
Clima macabro, roupas pretas, pessoas estranhas e um sentimento de quanto pior, melhor. O cartunista Charles Addams se tornou, em 1933, quando tinha apenas 21 anos, um dos colaboradores mais queridos da revista The New Yorker simplesmente por preferir um humor sinistro, gótico. Afinal, a peculiaridade resultou em alguns dos personagens mais famosos dos quadrinhos de todos os tempos, que posteriormente viraram figuras de uma série de televisão nos anos 1960, filmes hollywoodianos e agora de um musical. Gomez, Morticia, Tio Chico, Wandinha, Feioso, Vovó e Tropeço formam A Família Addams, que deixa a Broadway, em Nova York, para aterrorizar os palcos paulistanos. Os portões da mansão mal-assombrada da trupe se abrem a partir de amanhã, no Teatro Abril, tendo como os apaixonados chefes da família Marisa Orth e Daniel Boaventura.

Eles se orgulham das gorduras, das feiuras, da sexualidade. Tem gostos bizarros, mas são sinceros, bem diferentes das famílias ‘margarinizadas’, perfeitas, que vivem nesse universo politicamente correto de atualmente”, disse a estreante no mundo dos grandes musicais, Marisa Orth. A atriz, famosa principalmente por interpretar papéis cômicos, incorpora Morticia Addams com louvor, ou melhor, com todo o pavor que a personagem pede. Olhar misterioso, sexualidade aflorada e humor sarcástico são características presentes em Marisa mesmo depois de despir a fantasia usada no palco. “Nunca tinha feito um trabalho que fosse simultaneamente uma peça de teatro, um show de música, de dança e de cenário, com efeitos especiais e tudo mais. Nós ensaiamos por dois meses, dez horas por dia, mas estou muito feliz e bebendo tudo que esses grandes artistas e produtores estão me oferecendo.”

A Família Addams celebrando o ciclo da vida - e da morte
Para compor a personagem, Marisa conta que se inspirou em diversas mulheres, mas que já se sentia treinada para o papel. “A Morticia é uma mulher que muitas atrizes gostariam de ter feito. Eu teria topado fazer nem que fosse para posar como modelo para o quadrinho, porque é uma chance incrível. Tem gente que sonha em fazer a Julieta, eu já sonhei com a Morticia. Ela é diferente, sexy, mórbida, com um grave na voz. Me inspirei em vários tipos de mulheres, até na senhorita Pig, dos Muppets, na autoestima que ela tem, com a obrigação de estar sempre fantástica. Sem contar o figurino, as unhas pretas, o cabelo, a pele branca. Eu brinco que ela parece uma lula gigante”, brincou, aos risos.

Mas se Marisa embarca nos musicais pela primeira vez, seu companheiro de elendo, Daniel Boaventura, assina a sua 11º produção. “É um trabalho surpreendente. Foi um heavy metal no sentido de ensaios, de apresentações, de voltar para um personagem cômico. Chegar ao Teatro Abril me recordou a época em que eu fazia o Gaston em A Bela e a Fera, porque você tem que se preparar para tudo, para os números musicais, para as piadas. Sem contar que é um personagem completamente o oposto do meu último, que foi o Perón, em Evita.” Assim como Marisa, o ator revelou um fato engraçado para se preparar para o desafio. “Gomez tem um pouco de Alberto Roberto, personagem de Chico Anysio. O Chico é sensacional. Me inspiro nele e me inspirei no Alberto Roberto também.”

Wandinha tenta convencer a família a não cancelar o jantar
Boaventura conta que a recepção do público foi muito boa nas apresentações testes que fizeram. “Estamos falando de um público que amadureceu com o musical brasileiro, que hoje compreende a linguagem necessária e também é cada vez mais exigente. Nós fizemos três apresentações já, para um público bem eclético, e percebemos que agradou todo mundo.”

Quando os atores foram anunciados como o casal protagonista, a repercussão entre os fãs foi de escolha certeira, principalmente pelos papéis anteriores de Marisa e Boaventura e até pela semelhança. Marisa até enumerou algumas. “Eu posso ser agressiva, vaidosa, sexy, afetuosa, elegante, cafona, tudo ao mesmo tempo. A Família Addams é a metáfora do tio feio e do cachorro sarnento da família, ela é tudo aquilo que as famílias reais escondem quando alguém chega.” Já sobre planos para continuar no gênero, Marisa brinca. “Eu não sei se os musicais vão querer continuar comigo.”

Membros mortos dos Addams também participam da festa
A peça
O musical A Família Addams se tornou uma das mais bem-sucedidas produções da Broadway quando estreou em abril de 2010, em Nova York, faturando mais de US$ 85 milhões — sua última apresentação na cidade aconteceu no dia 31 de dezembro do ano passado. Uma turnê pelos Estados Unidos foi lançada no dia 15 de setembro e o Brasil é o primeiro País a receber a montagem internacional.

A Família Addams apresenta uma história original, então não pense que alguns dos filmes, ou mesmo a série, serão lembrados no palco. No musical, a filha do casal protagonista se transformou em uma jovem mulher e se apaixonou por um doce e inteligente jovem de uma família tradicional. Wandinha, considerada uma princesa das trevas, tem um namorado normal. Para os pais, Gomez e Morticia, esse é um acontecimento que irá virar de cabeça para baixo a casa dos Addams, principalmente quando eles são forçados a organizar um jantar para o jovem e seus pais.

O jardim da mansão assombrada de A Família Addams
O musical, como não poderia ser diferente, começa com uma cena grandiosa. Toda a família está reunida no cemitério da mansão para celebrar o grande ciclo da vida — e da morte. E, como a própria Morticia diz, família é família morta ou viva, eles evocam os antepassados das tumbas para fazer parte da comemoração. O cenário elaborado e a caracterização impecável adiantam que trata-se de uma produção com todos os artefatos que uma peça da Broadway pede, como há tempos não acontecia no Brasil.

Os últimos musicais que pingaram em São Paulo, como Mamma Mia, Cabaret, Hair e Cats, são extremamente conhecidos, mas muito simples nessa parte. Outros, como As Bruxas de Eastwick e A Gaiola das Loucas, são mais elaborados e com mais cenários, mas ficam longe de produções como A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera e Miss Saigon, que também fizeram sucesso por aqui. Por isso, pelo menos na parte visual, A Família Addams deve agradar, e muito, o público.

Qualidade

Musical traz super produção para SP a partir de 02/03
Mas são vários os fatores, além da qualidade da produção, que prometem abalar a passagem do musical pelo Brasil. A começar pelo talento dos atores, não levando apenas em consideração Marisa e Boaventura. A experiente Sara Sarres, que estrelou outros musicais como O Fantasma da Ópera e Les Miserables, faz a Mortícia alternante. “Eu não poderia estar mais honrada, além de aprender muito com esse elenco maravilhoso. Estou um pouco apavorada com a responsabilidade de alternar com a Marisa Orth, mas muito feliz porque esse personagem é um presente”, disse.

Mas ela não é a única. O segundo casal da peça, formado por Wandinha (Laura Lobo) e Lucas (Beto Sargentelli) reforçam o grupo. Nos números apresentados para a imprensa esta semana, as vozes dos dois destacam-se no elenco. Laura já participou de musicais como O Mágico de Oz e Peter Pan e Sargentelli de Mamma Mia. Além disso, Paula Capovilla, que protagonizou recentemente Evita, também está na peça.

Agende-se
O quê: A Família Addams
Quando: A partir de amanhã, de quintas e sextas, às 21h, sábados às 17h e 21h, e domingos às 16h e 20h.
Onde: Teatro Abril (Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 411, Bela Vista, São Paulo)
Ingressos: As entradas custam de R$70 (Balcão A) a R$250 (Plateia VIP).

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