segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As Bruxas de Eastwick: muita propaganda para pouco espetáculo

Três amigas se reúnem semanalmente para apreciar um bom vinho, falar sobre a vida e, claro, sobre homens - ou melhor, a falta deles. Num desses encontros elas resolvem imaginar como seria o companheiro perfeito. Mas o que elas não sabiam é que o desejo se tornaria realidade, e, para alegria geral, elas poderiam satisfazer todas as vontades mais secretas. O enredo de As Bruxas de Eastwick, conhecido principalmente pelo filme de 1987, estrelado por Jack Nicholson, Michelle Pfeiffer, Susan Sarandon e Cher, é picante, engraçado e diferente, uma combinação perfeita para um bom espetáculo. O problema é que, em partes, essa combinação não acontece. A peça ficará em cartaz no Teatro Bradesco apenas até o dia 11 de dezembro, por isso aproveito para escrever sobre o musical. Afinal, ainda dá tempo de correr para o teatro.
Provavelmente, muitos já assistiram ao filme, com elenco estrelado, baseado no livro de John Updike. Além disso, o espetáculo original de Londres (2000) já teve montagens nos Estados Unidos, Austrália, Rússia e República Tcheca. Cláudio Botelho (o talentoso) assina a adaptação para os palcos brasileiros e  Charles Möeller assume a direção da superprodução. Como a história é conhecida e de muito sucesso, a divulgação da peça foi estrondosa, principalmente por trazer Maria Clara Gueiros no elenco (que estava no auge da carreira fazendo a fogosa Bibi em Insensato Coração) e Eduardo Galvão (no ar na com o mesmo folhetim). Para ajudar, poucos dias antes da estreia oficial, as críticas que começavam a brotar denominavam a peça como obra-prima. Com tudo isso, a ansiedade e a expectativa pelo “primor” eram enormes.
Mas criar expectativa é algo problemático. Geralmente, a peça ruim fica horrível e a boa se transforma em mediana. E no caso de As Bruxas, não foi diferente. Achei que entraria no teatro e sairía sem fôlego (culpa da “venda” exagerada), mas deixei o Bourbon Shopping  (onde fica o teatro Bradesco) muito decepcionado.
Vamos lá. Os problemas maiores do musical são, algo inacreditável, as músicas. Elas são (com exceções, claro) chatas, mornas, longas, too slow e não cativam o público. Os solos dos artistas são enormes e chegam a cansar, principalmente quando as três amigas contam quem são elas e quais são seus problemas e desejos. A cena é interminável. Para tentar amenizar os números fracos, a personagem Garotinha entra vez ou outra intercalando as cenas para cantar/narrar a trama. Aliás, ponto para a Garotinha, que é ótima e tem um desfecho hilário. Mas não importa a história, um musical com músicas fracas nunca funciona.
Mas, calma, nem tudo está perdido, afinal, Fafy Siqueira está em cena. Como Felícia Gabriel, a ambiciosa, pilantra, fofoqueira e conservadora chefe da cidade, Fafy eleva o nível do musical. Com um talento irretocável, até mágica a atriz faz no palco, tudo para divertir o público – missão cumprida. Mas ela não é a única. O elenco de As Bruxas de Eastwick é ótimo.
Eduardo Galvão é um show à parte. Eu já gostava do Galvão depois de Gypsy, mas na pele do terrível e safado Darryl Van Horne, o ator arrebenta e protagoniza a melhor cena da peça, o número Dançar com o Demônio (confira o vídeo logo a baixo). Aliás, deixei o teatro com a música na cabeça (um ponto positivo para a superprodução). Galvão faz o canastrão com primor. Indescente, sarcástico e divertido.
O trio principal também é bom. Eu não assisti com Maria Clara Gueiros, que foi substituída por Germana Guilherme (a voz mais bonita das três), mas acho que não mudaria tanto (apesar de imaginar algumas piadas como a cara dela e que não ficaram tão engraçadas com a Germana). Renata Ricci é uma ótima e divertida atriz com voz de criança. Muito carismática e verdadeira. Apenas  Sabrina Korgut, como Jane Smart, me irrita um pouco. Eu não gosto muito do tom da voz dela e algumas interpretações passam do ponto, mas nada que prejudique a peça.
O famoso voo do trio pela plateia (encerrando o primeiro ato) cumpre todas as expectativas, sendo, inclusive, o segundo melhor momento da peça. A cena é muito bem feita e envolvente, com efeitos incríveis. O clima no teatro se transforma e o público fica, visivelmente, deslumbrado. Se essa não fosse, entretanto, a única parte cativante do primeiro ato, as coisas poderiam ser diferentes.
Como apenas propaganda não segura público, com pouco tempo em cartaz (a estreia aconteceu em agosto – eu assisti no começo de outubro, menos de dois meses depois), o elenco já se apresentava para um teatro vazio em pleno sábado. Com isso, as promoções começaram, afinal, a temporada estava lançada e uma produção dessa precisa se pagar. Então os últimos dias do musical estão com preços bem acessíveis (começando em R$ 35,00).
Só mais uma coisa. Preciso fazer apenas mais uma ressalva. Não levem crianças ao espetáculo, ou mesmo pessoas muito conservadoras. Diferentemente do que diz a propaganda -um show para toda a família -, certamente isso não é verdade. Na minha frente havia uma garotinha de uns 10 anos e fiquei incomodado por ela. A peça exagera nos palavrões (alguns disseram que era a pimenta brasileira, sem comentários quanto a isso), de todos os tipos, pesados, sem contar cenas que simulam sexo oral, orgia, entre outras coisas. Tudo tem limite.

Um comentário:

  1. Bom, não entendo muito de musicais, já que vi poucos e me sinto meio insegura para comentar algo. Mas gostei do seu texto. Embora o musical - segundo o seu olhar - poderia ser bem melhor, você ainda me deixou com vontade de vê-lo e, além de tudo, aproveitar a "promoção". Beijoca

    ResponderExcluir